A busca incessante do amor

"Amor em tempos de pressa" é o título de um artigo que encontrei numa das revistas que estava organizando. Parei para reler e me interessei pelo assunto. O artigo iniciava com a explicação do sociólogo polonês Zigmunt Bauman para o fato de as relações amorosas serem tão instantâneas atualmente. Para ele, autor do livro "Amor líquido", esses relacionamentos acompanham o ritmo de consumo exacerbado que vivemos. Explica o escritor que, do mesmo modo que consumimos objetos e depois os trocamos por outros mais novos, e ainda, levados pela publicidade e a mídia que torna tudo muito mais atraente; também no amor há uma sede de consumo. 
Argumenta ele que, "pessoas diferentes, namoros, experiências sexuais: todos nós teríamos uma ânsia em provar tudo e, ao mesmo tempo, sentir uma sensação de prisão, quando finalmente estivéssemos com alguém."  E, assim, logo partiríamos para outras conquistas, talvez maiores ou mais emocionantes. 
Concordo que vivemos uma época em que tudo se tornou muito efêmero e vivemos com pressa e ansiedade de mais. Luta-se contra o apego. Vive-se em nome de uma felicidade a qualquer custo, como se não houvesse o dia de amanhã. Segundo o sociólogo, as pessoas têm transferido esses valores para a forma como buscam o amor. "Misturando aos nossos valores, anseios e emoções criamos um mecanismo interno que nos faz buscar a felicidade fora de nós, sem deixar espaço para que ela entre. E com a felicidade o amor."  
A psicanalista paulista, e também socióloga, Catherina Voltai concorda e completa: "além de estarmos compulsivamente buscando um amor que mal entendemos e ansiosos por viver um pouco de tudo, passamos a acumular muitas e muitas dores de amor". E com as frustrações surge outro mal - o medo de amar -, pois as pessoas passam a escolher parceiros pouco interessantes para envolvimentos pouco intensos. 
E fico pensando que essas pessoas se entregam a essa busca como solução para todos os seus problemas e deixam-se fazer reféns de amores infelizes e destrutivos por não terem a serenidade necessária para compreender que o maior erro está nessa tentativa de encontrar o outro que o complemente, sem nem mesmo saber se é o que querem realmente, pois em alguns momentos o mais importante é o conhecimento de si mesmos, e a compreensão de que é preciso ser feliz independente dos outros, do que é exterior, do que está fora. 
Precisamos encontrar felicidade a partir do que somos. O amor precisa acontecer naturalmente, precisa desabrochar, florescer. "Se conseguirmos ser felizes por nós mesmos", diz o filósofo Luis Fuganti, "aí sim podemos achar um outro que possa partilhar conosco o amor. Dois seres sem consumir nem depender do outro, mas felizes."  
Pois é... E o importante é acreditar sempre que o amor pode surpreender no momento em que menos imaginarmos que precisamos dele.

Rita Ribeiro

*"Amor em tempos de pressa", Alessandro Meiguins, Revista Emoção & Inteligência, Editora Abril

Post publicado originalmente no meu blog Pensamento me leve, em 04/08/2011


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